Podemos perceber que quando nos comunicamos pela Internet, nós temos a chance de uma aproximação mais direta e intimista com nosso público. Do mesmo modo, nossos concorrentes também possuem acesso a abordagens como esta. Somado a isso existe o fato de que a concorrência on-line não se limita aos estabelecimentos de sua rua, seu bairro ou sua cidade. Assim, você pode ser morador de uma cidade de 15 mil habitantes e competir com uma empresa de outra cidade de 15 mil habitantes, porém na Indonésia, Polônia ou Porto Rico, por exemplo.Se não bastasse, a Internet limita a percepção sensorial uma vez que não há o tato, o olfato ou o paladar presentes na interação com o cliente, precisando ser recompensado por meio da visão e audição.
Para apimentar um pouco mais este cenário ligeiramente hostil, temos a imediaticidade. Dependendo do que se trata, 1 minuto pode ser tarde para uma intervenção na rede. Nesse tempo, você pode ter perdido uma chance que foi aproveitada por aquele seu concorrente chileno.Por estas e outras é que a criatividade está diretamente ligada ao sucesso das ações virtuais.
Eu gosto de fazer um exercício lúdico para explorarmos significados acoplados a alguns termos e quero propor esta reflexão com a palavra “criatividade”, se a separarmos, temos: cria + atividade: a atividade de criar algo. Consequentemente, conseguimos perceber a tempestividade de uma ação no processo criativo, que seria a “ação de criar”.E é isso mesmo que o termo remete. Criar implica em formar algo, em dar forma, corpo, vida a alguma coisa inédita. É a concepção do “novo” que passa a estabelecer novas conexões para a mente humana, se há este condicionamento de aprender novas conexões, consequentemente, há também a necessidade de se compreender algo novo, assim como de relacionar, ordenar, configurar e aplicar significados segundos, ou seja, a criatividade envolve o processo de criação que pode romper paradigmas já estabelecidos em nosso mind set.
Mind Set é a “configuração mental” que temos das coisas, é a nossa mentalidade sobre os processos, as pessoas e os objetos que interagem conosco. Você está em um curso a distância, por exemplo, hoje, é uma modalidade de ensino altamente difundida, mas, ainda assim, pode ser estranha no início para um estudante (talvez você mesmo) que sempre teve aulas presenciais e ainda não se adaptou a este formato, pois seu mind set , em relação ao ensino-aprendizado, está configurado com algo diferente que sempre foi comum em sua vida.
Associando esses conceitos sobre criatividade com o marketing digital, nós nos deparamos com o desafio de inovar em ações virtuais para conseguir, de fato, entregar um conteúdo de qualidade aos nossos consumidores, de uma forma não abusiva, cansativa e que esteja dentro (ou acima) das expectativas desses compradores. Difícil, não? E não tem como ser diferente.
Um exemplo de criatividade em uma ação de marketing virtual foi o caso da batalha entre as redes de fast-food McDonald ́s e Bob ́s. A rede do “M” dourado lançou um milk-shake sabor Ovomaltine e investiu na propaganda do lançamento deste produto. O Bob ́s, contudo, já tinha este sabor em seu cardápio há anos, e veio a resposta por meio das redes sociais. Tudo rápido, com o imediatismo que ações on-line demandam.
No lançamento, o McDonald’s usou, entre outras, uma postagem em seu perfil no Facebook com a imagem do novo sabor do milk-shake acompanhada dos dizeres “FINALMENTE”, em letras garrafais. Em resposta, o Bob ́s soltou alguns posts com a imagem de seu próprio milk-shake com os seguintes dizeres, em tom de provocação: “Finalmente lá? Sempre no Bob's!”, ironizando o lançamento anunciado pelo concorrente. Ainda, o Bob’s também realizou outro post agressivo referindo-se ao milk-shake concorrente, como milkfake. Tudo isso sem mencionar o nome do concorrente. O Bob’s deixou clara a referência e deu a resposta rapidamente, graças ao monitoramento constante e à flexibilidade que a Internet dá para ações imediatas.
Se não bastasse a briga entre os dois, outras redes aproveitaram o ensejo para tentarem alguma promoção em meio às trocas de farpas, foi o que fez a rede Giraffas e a rede Pizza Hut. A rede Giraffas publicou uma imagem com os dizeres “de boa assistindo a treta com meus vários milk-shakes”, destacando um de seus sabores diversos de milk-shakes. A legenda, no Facebook do Giraffas, desta imagem postada foi a seguinte: “Uns com tanto e outros com tão pouco. #chegademesmice”, referindo-se que o Giraffas possui sabores que não se restringem ao Ovomaltine. A rede Pizza Hut se aproveitou do ditado popular “e, no final, tudo acaba em pizza” e também entrou na onda com uma publicação contendo os dizeres “E, no final, tudo acaba na Pizza Hut”, acompanhado de uma fotografia de uma pizza de Ovomaltine, disponível no estabelecimento. Neste post, a Pizza Hut aproveitou a onda achocolatada do Ovomaltine e divulgou sua pizza neste mesmo sabor que outras redes estavam brigando pelo milk-shake. Este caso teve outros desdobramentos, mas com esses exemplos já conseguimos perceber como a criatividade influenciou em todo o processo. As articulações de trocadilhos, o contexto da época, o ingrediente sendo protagonista em diferentes ações, o tom de humor e o sarcasmo presente nas “cutucadas”, entre outros.
Além da criatividade, temos que notar também que essa “briga” só ocorreu por causa da Internet. Imagine se o Bob’s fosse produzir um comercial para a televisão, gravar, editar, enviar para uma emissora, enfim, levaria dias e já perderia o timing para a resposta. O marketing digital não só permitiu esta intervenção como também trouxe outros players para o palanque. Cada um tentando atrair o consumidor ao seu modo.
Com isso, você pode ter pensado: “essas empresas precisam ter uma equipe muita rápida e criativa para fazerem essas intervenções. Eu não sou tão criativo assim”, se você pensou algo assim, permita-me te contar um pequeno segredo: a criatividade ama limites! Se você estabelece prazos bem definidos, você sai de sua zona de conforto e se obriga a trazer resultados.
Criatividade não é esperar uma fonte de inspiração que ora aparece, ora não aparece. Criatividade é prática, é uma habilidade que pode ser desenvolvida e aprimorada naqueles que a exercem. E prazos ajudam nesse processo, pois condicionam nosso cérebro a encontrar um caminho alternativo, novo, não desbravo antes, em um período de tempo bastante curto.
Em meio a isso, podemos retomar o conceito do PDCA. A fase do planejamento deve estabelecer prazos, que devem ser cumpridos. A fase do monitoramento deve atentar-se para a concorrência e seu público para fazer intervenções (ações) de acordo com o novo percurso que se apresenta a sua frente.